domingo, 5 de junho de 2011

"Poesia e Dança Dança e Poesia" ("A Escrevedora" - Junho)

Poesia e Dança
Dança e poesia


Uma combina com a outra? É pode ser...
Quando dançamos, o corpo desenha uma poesia no ar.
Um monte de hieróglifos, de riscos e de rabiscos.
Quando escrevemos alguma coisa livre no papel, aparece uma sensação, uma emoção, uma coisa, ou um nada não.
Algo
Com sentidos, “dessentidos”, onde uma linha reta pode virar uma bola de futebol e o céu aparecer no meio de minha boca.
Penso, pode ser poesia.
Imaginação imagina, cria coisas, cria poesia, cria dança, cria mundo, faz viver o simples.
Eu comecei a dançar aos dez anos de idade, comecei a brincar. Meu corpo aprendeu a pensar movendo para cima, para baixo, para o lado e o outro lado, para dentro, para fora e não parou mais. Para pensar preciso dançar, para entender o mundo vejo o movimento.
Leio na poesia um lugar de movimento
O que é poesia?
O que é dança?
Imagem na ação.
Como pode ser a palavra que tece a poesia e transforma transbordando, “transbrotando”, rasgando, invadindo campos infinitamente poderosos.
Acho uma coisa maravilhosa ler Verlaine, Beaudelaire, Rimbaud, Rainer Maria Rilke, Cora Coralina, Manuel Bandeira, Pagu, Fernando Pessoa, Olavo Bilac e tantos outros...
Cresci com Henriqueta Lisboa, recitava a poesia ...”toc, toc toc pelas ruas do caminho vão batendo os tamanquinhos toc toc...”
Com Cecília Meireles imaginava “um jardim com Flores, borboletas de muitas cores” ficava dentro deste jardim vendo o sapo que é jardineiro, o grilinho dentro do chão. Ficava dentro, lendo poesias, viajava e viajo para lugares de potência que me fazem entender um pouco mais o que estamos fazendo aqui.
É claro, subjetivamente!
Estou sempre dançando poesias, uma fonte de inspiração, de expiração.
A poesia abre um lugar de imagens gustativas, de sensações, de emoções, de possibilidades....
Dançando tenho uma sensação similar, pois construo estados de conexão onde o senso comum se dispersa e entro em um campo invisível de freqüência, o que me faz também entender desentendendo um pouco mais o que estou fazendo aqui.
Uso da poesia para dançar, talvez possa ser o abstrato, aquilo que não se consegue capturar.
O substantivo poético conecta ao movimento substantivado para chegar na substância do acontecimento.
O poeta e o dançarino têm uma coisa muito forte em comum, acho: o desapego.
O presente do instante faz com que dance, que escreva e aconteça naquele simples momento já.
Quando leio uma poesia, não penso no antes ou no depois penso no agora. A sensação de frescor sempre me visita.
Revisito poesias e é incrível. Sempre tenho a sensação de primeira vez, de descoberta. Nunca, é incrível! Sinto a mesma coisa, sempre um pouco diferente, novas paisagens.

ESCARAVELHO
BESOURO
HIPOPOTÁMO
Qual a semelhança?

Adoro as palavras e tenho deferência por algumas, parece que elas tem um enorme acervo de significâncias, mundo do dançar, mundo do poetar, mundo do inventar, infinito como o meu saber do universo.
Aonde terminam e começam as coisas, quando fico eu e minha pessoa, não sei exatamente onde ela acaba. Transporto esta sensação para a Dança, para a poesia, para a arte, para as pessoas.
Pensamento de mundo corpo e corpo mundo.
Existem fronteiras, mas construídas por nós. Se olhamos com olhar redondo uma coisa entra na outra, ora escrevo, ora desenho, ora danço, ora cozinho, ora converso, ora varro, ora não faço absolutamente nada e depois vou dormir e acordar em um ritornelo sem fim.
Viva, acordada para o que vem me visitar.
Como posso escrever de dança e poesia?
Como dançar isto que escrevo?
Como?
Talvez me atrevendo a deslocar de um pé para o outro e de uma palavra para outra.
Como você sente isto?
Solto? Desconexo? Vazado?
Que tal dançado?
 (DUDUDE ***Escrito em Janeiro/2011)

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