quarta-feira, 1 de abril de 2015
Mundo corpo corpo mundo
Mundo-corpo e Corpo-mundo
De uns tempos para cá, estou às voltas com um pensamento
de conexão e ao mesmo tempo de extensão. Fazer ressoar
pelo espaço à fora as ideias que atravessam meu talvez
ser corpo.
É certo que trabalho na porosidade, na imagem da espuma, e
no corpo como filtro e transmissor de potências. Tais
potências estão na vontade, no desejo, na ação, e
acredito que ela aparece quando estamos vivendo no tempo
presente. Por falar em presente, observe como é linda a
forma da palavra "presente": antes de sentir, estou
presente na ação, estou dentro do tempo. E que tempo é
este que gosto tanto de falar e discorrer sobre? Certamente
não é o do relógio. Talvez seja um tempo parecido ao de
Marcel Proust em seu romance “Em busca do tempo perdido”. Este
tempo está sempre passando, em um devir constante de
aceitação e transformação.
Justamente por falar deste tempo dilatado é que me
encontro aqui, imprimida em palavras que começam com o
agrupamento de letras que formam palavras, que mais uma vez
agrupadas constroem frases. Frases com sujeito,
substantivo e adjetivo, sempre acompanhadas de verbos, pois
nesta vida precisamos de ação.
Nascer é uma ação: penso sempre na continuação deste
fato, então todos os dias continuo.
Mas é fato também que estou me delongando e ampliando
para chegar a uma questão que muito me interessa. Há um
tempo comecei a pensar e sentir as ressonâncias através
do movimento produzido pela ação do dançar, aonde esta
ação levava meu pensamento. Comecei a escutar os ecos
deste e refletir sobre. Foi então que cheguei nesta
ampliação de Corpo-mundo e mundo-corpo. O que significa
isto para mim, para você? Mundo grande e pequeno, mundo
vasto e miúdo. Pois o que acontece dentro, está
acontecendo fora. Nosso corpo habita este mundo e também
é habitado por ele.
Acho esta ideia maravilhosa! Traz para mim uma sensação
de plenitude, de mais um no redemoinho do vir a ser, de
pertencer a algo maior do que eu mesma. Traz tudo que está
ao redor, compartilhando os efeitos e os afetos circundantes
e circulares. E deste modo, me faz entender que o mundo
está para o meu corpo-casa assim como meu corpo-casa
está para o mundo, o que implica a noção de cuidado e
atenção no caminho que traço e risco nesta
trajetória.
Árvores, rios, céus, terras, mares, animais grandes e
pequenos coabitam este lugar, e vivemos todo o tempo cheios
de interferências, de ressonâncias, independendo de suas
frequências.
A curiosidade que tenho serve de alimento para o
entendimento das ações futuras que seguem adiante, para
o entendimento das ações de ontem, e para me colocar em
cima de meus pés que conversam com aquilo que os apoia: a
terra. Quando me percebo, penso aonde me encontro, vejo ao
redor, novamente penso, sinto como este planeta me acolhe e
me nutre. Sem este chão não teríamos este corpo.
Perceber a importância de tudo que nos rodeia é
fundamental para termos a sensação de cuidado e de
respeito para com este mundo. Deixar ressoar o mundo em
nós: sabemos que estamos aqui de passagem. Insisto em
falar disto. Creio que o mundo só está assim hoje porque
tiveram pessoas que cuidaram e conversaram com aquilo que
já estava como a água, o ar, a terra, as plantas, os
animais.
Tempo para o silêncio.
Vazio.
Quero muito escrever sobre, mas me extravaso e extravio o
meu querer de apenas ser simples. Será que estou me
fazendo entender?
Abranger a substância do mundo para
Ser
Quando escrevo já estou sendo alguma coisa, exercendo através do meu ser que se dilui em palavras e constrói idéias como esta de Mundo-corpo e Corpo-mundo.
Hoje penso desta maneira do pequeno para o grande e inversamente do grande para o pequeno.
Você já imaginou como somos imensos para uma formiga, e como somos formigas dentro do universo.
E somos massa do planeta terra, juntamente com a água, aterra, as coisas grandes e pequeninas, de longe é tudo uma coisa só e, no entanto aqui temos nossos territórios,
guerreamos por isso e aquilo, até a água está sendo comprada e ela, a água, nem sabe disso, ela está existindo generosamente e nós em conjunto sujamos, secamos, destruímos aquilo que nos guarnece, alimenta, acolhe.
Penso muito nestas questões e sabe você o que faço? Faço o que posso no movimento pequeno de gente, cuido. Cuido das coisas, do espaço perto de mim, assim desta maneira escrevo, danço, converso, faço espetáculos escolho as coisas, leio livros, agradeço todos os dias. Isto pode até parecer “piegas” mas para mim não é, trabalho com arte trabalhando com a subjetividade destas impressões.
Procuro tocar talvez em um campo de imanências do mundo através do movimento da vida e tenho esperanças de mudanças sutis.
Não quero classificar nada. Mas quero muito ver, sentir, cuidar desta conexão mundo corpo e corpo mundo.
Porque isto vale a pena.
Olhe para uma arvore florida em uma rua cheia de carros, barulho, asfalto, olhe como ela conversa com está paisagem e depois de um breve silêncio.
Respire com todo seu corpo casa está paisagem que não faz força nenhuma para acontecer simplesmente porque as coisas já estarão no devir desta imanência. Portanto coragem é o que desejo hoje para todos nós que fazemos e somos a massa do mundo humano.
Portanto cuidado é o que fazemos e somos a massa do mundo humano.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário