Nos tempos que vivo
Tenho sempre muitas saudades
De um tempo em que tudo era
Talvez este tempo nunca tenha realmente existido
Mas em meu intimo ser pequeno ele existe continuadamente
Na sombra de uma mangueira
No por do sol
No movimento das nuvens
No vendedor de picolé ou na sorveteria de sorvetes caseiros
No quintal de uma casa antiga onde sombram arvores deste tempo
No rio que corre em uma cidade(neste caso me atenho somente ao barulho das aguas correndo no rio e desejando que voltem a ser limpas, translúcidas)
Nos tempos que vivo
Tenho sempre saudades
De um tempo em que era
Acho que sou antiga
Desejo tanto a felicidade e bons tratos para os ventos, as aguas, os bichos
Desejo tanto que meus olhos fiquem úmidos
Como o mundo era verde e não sabíamos
Como o mundo era grande e misterioso e deixávamos
Como o mundo era rico de pureza
Estou sempre no meio
No meio desse mundo
Tenho saudades daquelas arvores daquela infância
Tenho saudades daquela cachoeira que não passa mais ali
Compro um pote de barro e planto em mim uma planta que vou cuidar com imenso e intenso carinho e gratidão abrandando a saudade que sempre terei
da montanha, do quintal, dos rios, da simplicidade, do telefone de fio, da telefonista o interurbano, do mistério do mundo, do pão quentinho da padaria pequena, do plantado aqui mesmo, do formigueiro, da horta de minha avó, do fogão de lenha aceso, do canto do cocorococó, das conversas mansas, da televisão preto e branco, da vida sem precisão de consumo, da canoa que atravessa o rio. do povo da floresta vivendo em paz
No tempo em que vivo
sempre terei saudades imensas da simplicidade
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