sábado, 2 de novembro de 2019

sina

o poeta escava na folha simples de um papel
p o e s i a
ele borda
ele pinta
e escreve
desvela imagem
vivifica coisas
entorna poema
ensopa o papel
ele só escreve
mas como um milagre
as palavras se agrupam e aparecem vivas em movimento

hoje vi um besouro
ele se debatia de bruços
tentei virar
ele novamente, rapidamente retornava a se debater de bruços

alguém uma vez me contou
- quando besouros, percevejos e outros parecidos deles viram de bruços
é porque chegou a hora de desaparecerem
estão em rito funubre
tão particular
tão intenso
tão corajoso
recusam ajuda
aceitam a finitude
vivenciam o rito com uma dignidade e obediência a sua sina de ser o que é
aceitam
cumprem
assim é

o poeta então
só escreve
ele também precisa aceitar
o desejo
a surpresa
o inesperado
as palavras vão se escolhendo e o poeta vai escorrendo-as uma a uma na simples folha do papel
assim é

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