Num relance, intenso rápido
Vi, sim realmente vi a cristaleira aberta
suas portas escancaradas e abertas
olhei seu interior profundo, denso de tantas mas tantas incontáveis sensações
memórias íntegras de mim
Olhei e me deixei ser olhada e vista também
a cristaleira ali aberta, quieta e escancarada
eu em sua frente também aberta, escancarada, completamente abobada
eu e ela, as duas abobadas e entre nós o espaço em transito de muitas recordações em formas de imagens, canções, tons de vozes , atravessavam velozes minha memória
vida vivida
passagem do tempo
passagem da vida
estava como se olhasse dentro de minha alminha de gente, entre louças, tigelas, potes, taças, sorviam de um tudo em seus ínfimos detalhes
cores, desenhos, formas, volumes, de vidro, de metal, de cristal, de louça
exalavam sentidos múltiplos de histórias, de mesas sobremesas, de conversas entre talheres, de gostos, de receitas, de olhares
sorviam de um tudo de vida de gente
um olhar tão rápido e veloz
tão sem querer
foi direto em meu coração
desanuviando as nuvens que guardavam em um silêncio azul, as histórias de mim
desvelou uma sensação de caminhada,
Havia um mundo ali
Tudo estava ali
no brilho
na curva
no corpo
no vazio
no compasso
aquelas todas coisas inanimadas eram tão cheias de
sentidos
de memórias
de meus dois olhos lágrimas doces escorreram
Quanta vida vivida já tive e tenho
a música de vários brindes tilintaram em meus ouvidos
fiquei um tempo estátua vivendo o dentro, o cheio
cachorro latiu
sai do transe
olhei de novo com olhos do dia
tudo continuava
escondiam o mistério do que uma existência possa ter de vida
realidade deslumbrada
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