sábado, 8 de novembro de 2025

Olhando memórias do Atelier encontrei esta sinopse de Daniel Lepkoff(2011), quando veio aqui ministrar esta Oficina

“Eu vejo a dança como a imaginação agindo através do corpo. A obra examina como a mente e o corpo agem juntos para compor nosso movimento. O que quer que aconteça, em qualquer momento, é apreciado como uma resposta inteligente ao momento presente de alguém e como o material que pode ser colocado numa moldura da dança. A oficina prove ferramentas e situações para a pesquisa de suas próprias escolhas de movimento e para o desenvolvimento de seus poderes de observação Eu sou um(a) performer de improvisação e meu próprio ponto de referência é o de desenvolver a prática da performance. Todavia, estas técnicas podem ser facilmente aplicadas por qualquer um que esteja interessado em criar danças ou em dançar, assim como pessoas que tenham curiosidade sobre o processo criativo e um apetite para o ser físico O material é retirado diretamente de minha própria pesquisa, que tem suas raízes em meus trabalhos recentes com o Anatomical Release Technique (Técnica de Desprendimento Anatômico) e com o Contato Improvisação, ambos, assim como também a partir das discurssões e colaborações em curso junto a vários artistas cujo interesse se justapõe ao meu.” DL-2011

Ação mensal ATELIER DUDUDE , aguarde o treino de Dezembro 2025


 

Uma pequena história por Dudude

 

Uma pequena história sobre “ela”

 

Pois então tirou a carteira já rota e bastante usada do bolso de sua calça

Estava vazia, não havia mais nenhum documento, carteira de identidade, de motorista, moeda, dinheiro, fotos, cartões

Nada, estava vazia e desabitada

Só havia mesmo a carteira rota, vazia e velha

Porque a esquecera no bolso de sua calça?

Porque a guardava?

Colocou a carteira em cima da mesa e a deixou ali por um tempo não pensado ou medido

A carteira vazia e rota continuava ali permanecia no mesmo ponto da mesa da casa

intacta

Ao mesmo tempo que já pertencia a inutilidade das coisas que passaram

Continuava ali

Admirava –a com uma certa distância

Silenciosa compunha a casa impregnada de outras coisas, objetos, quinquilharias passadas

Passadas ligada a passados, memórias que demarcavam o espaço dos então viventes.

Os objetos demarcam o tempo das memórias, das lembranças de uma grande maioria de acontecidos que continuam acontecendo, eternizando o presente, a sensação ainda viva em cada coisa, e a necessidade carnal da presença das coisas

olhava a carteira

e

Pensamentos aludiam, várias memórias começavam a emergir daquela simples e velha carteira

Memorias de uma vida do dia a dia

Quantos dinheiros temporários passaram ali

Quantos dinheiros se fisicalizaram em comida, em roupas, em presentes, em coisas

Quantos dinheiros foram produzidos através do trabalho

Havia sido muito usada e necessária

Porque ainda a mantinha em cima da mesa?

Que chave aquela carteira guardava mesmo vazia?

Sentiu que ali naquele objeto, acessório, alguma coisa ainda precisava ser apagada, desmanchada

Resolveu então deixar que ela mesma desaparecesse por sua própria conta

Resolveu deixa-la ali na mesa, como um alguém esquecido de onde estava, esquecido do tempo contado do relógio, do calendário, do compromisso, do valor de si

Deixá-la ali perdendo o significado

Coisas podem existir em uma atemporalidade, desmemoriada de sua função, do que de fato e para que foi construída

Pensava sobre o trânsito, que tal objeto teve em sua vida ativa e economica, aonde mais habitou , sua velocidade  enquanto carteira

Sua função de passagem

Passagem sim

Se guarda para passar e quantas passagens se deram na aquisição de uso e desuso

Agora ela estava  em cima da mesa,  penso por ela

Ela me conduz o pensar lembrando

Enquanto isso olho diretamente para ela me lembro de quanto tempo ela me serviu, guardou coisas imprescindíveis para o mercado, para a feira, para as contas, para a viagem, me assegurando da existência de mais um humano

Carteira objeto de desejo do ladrão

Passa a carteira, passe sua quase toda intimidade registradora

Não posso perder a carteira

Não a perdi nunca nunquinha, sempre colada ao corpo, a bolsa, a pessoa, o bolso

Carregou minha identidade frente a sociedade anônima

Carregou o dinheiro da passagem, depois do pão, do leite, do almoço, dos brinquedos, da diversão e assim seguiu seu modo existência carteira

De um dia para o outro, depois de muito ir e vir e guardar e gastar olhei para ela com desejo de desapegar de experimentar uma outra nova carteira na intenção de mudar, na intenção de prover, na intenção de fluir, na intenção de atrair

Troquei, com o dinheiro cartão que estava guardado nela gastei, comprei uma nova carteira que agora vive em minha bolsa, sacola, bolso, e faz o mesmo trabalho me guardar, objetos preciosos

Documento, cartão bancário, dinheirinho, moedas, papéiszinhos com anotaçõezinhas para não se esquecer depois.

Mas voltamos a falar destas vidas de objetos que vivem colados em nossos corpos sociais

A carteira vazia continuou sobre a mesa, passaram dias, noites de um tempo distendido

Então, vem a me visitar, uma mocinha, chegou em minha casa e sem o pudor, se sentiu livre para me perguntar: e esta carteira bonita? É sua?

Eu disse: foi por muito tempo, e está agora esperando um outro dono

A mocinha não se fez de rogada e espontaneamente falou: posso ficar? Vou ficar feliz de ter uma carteira bonita, e ela será a minha primeira carteira.

A alegria se fez em meus olhos e coração, não precisei fazer nenhuma força, pensar quem poderia querer ficar com ela.

A carteira deixada na mesa, fez seu trabalho de esperar, o tempo ia cuidar de seu destino

E naquela manhã de um dia qualquer aconteceu

Desocupou a mesa, a casa, e despediu de minha pessoa

Deve estar correndo mundo por aí

Coisas, objetos podem sim durar eternidades

Agradeço minha vida com ela, sempre tinha um dinheirinho para o café, para a passagem.

E ainda por cima me rendeu esta história que aqui escrevo para você.

 

 

 

 

 

Ler ...Li...por Dudude ( inacabado)

.Ler livros é abrir mundos 

Desvelar pensamentos 

Viver histórias criadas, vividas, escritas por outrens 

Se deixar ser totalmente fagocitada Entrar em universos as vezes tão intenso, tão demasiado humano, fantásticos 

Viver histórias nascidas de uma criação de palavras 

Palavras mais palavras geram potências ao infinito 

Muitos livros estão gravados na atmosfera terrestre, não se diluem nunca mais 

Talvez reverberem no espaço do universo quântico 

Criptografados, por sua própria força de perdurar 

São passados, e permanecem no presente intenso, são lidos por gerações e gerações 

Muitos dos livros que li estão grafados em minha vida, são lições, são entendimentos de como sentir a vida 

Me ajudam a desenvolver minha voz falada, me ajudam a viver na vida como um poeta livros são encantadores da vida