quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Para imaginar

Imagem algo que imaginamos....será?
Há quantas anda a imaginação no plano da liberdade de simplesmente darmos asas em voo livre,de soltarmos o lastro e seguir,seguir,continuar seguir
Poder de imaginar algo imaginado,sem ter a precisão da lógica,neste caso a lógica é da propria ação da imaginação,sem entendimento prévio.
Percebo que minha imaginação anda represada de realidade,acolhida ao mundo real,imagem concreta,fixa minha abstração
Observo crianças brincando,inventam mundos de pura fantasia,que desaparecem ao acaso e sem pressa novamente reaparecem ,um lugar fértil,anímico de invenções,um tempo extenso.
A marcação do relógio inexiste,ainda não são adestradas ao cronometro do tempo regido
A marcação do relógio restringe o tempo do mundo que vai,desvai no continum
Devaneio,aspiração,desejo,coisas que podem estar desapegadas deste viver ordinário.

Hoje olhei um homem,era um carroceiro,sua carroça timha uma organização e seu cavalo parecia trotar feliz.Olhei imediatamente para os tres homem,cavalo,carroça-conjunto de coisas paisagem-imagem inteira solta no espaço de rua,carros,asfalto,barulhos,então soltei a imagem, e sabe aonde ela me levou?
Asas da imaginação,rapidamente o homem,a carroça,o cavalo e eu é claro estavamos em um outro lugar, certamente distinto.
Depois este tempo passado,agradeci e regogizei por ainda existir estes intervalos fractais que nos permitem derivar,sair de linha.
Talvez seja a mesma sensação de furar uma onda,penetrar no vazio,onde seu corpo físico vira apenas uma ação,gosto disto e assim me deixo meio assim ao sabor do vento.
Imagino coisas que estão no espaço e tais coisas são imagens puras,absolutas,me alimentam,me impressionam,me trazem o presente e tem presente maior do que estar vivendo este tempo agora na sua plenitude já e ainda por cima ressoar e soar e soar até soltar as asas dos braços.
São muitas coisas ao mesmo tempo,não me importo,pelo contrario me aporto das imagens sempre que estou.
E sempre que posso entrego-me ao devaneio como um barquinho de papel na agua da enxurrada e meu desejo se mistura com minha imagimação e lembro da bolsa de Marry Poppins,infindavel de surpresas inusitadas,pequena bolsa,imensurável bolsinha!
Dudude Herrmann/2006

Improvisação-palavra gigante Corpo em estado de Obra Aparecer desaparecer

Quanto mais exercito a improvisação em dança mais questões correlatas à ação de estar produzindo e compondo imagens se revelam e trazem mais e mais questões....
Perguntas são sucessivamente colocadas no plano real do acontecimento.

Por que me interesso tanto pela linguagem da improvisação em dança?

Pela efemeridade deste fazer?

Qual a disponibilidade do improvisador de estar ali entregue no instante zero?

É vital sua confrontação com o vazio?

Penso como um fotógrafo que captura o instante na expectativa que ele se torne eterno.

Estudo, treino e aprendo, apreendo os momentos onde o acontecimento foi de uma intensidade nauseante, revelando algo maior que nossos corpos, e nos trouxe a sensação que sempre há algo além da imagem.

ETERNIDADE...

Penso como um detetive que investiga alguma coisa que o faz prosseguir... talvez o desejo da captura deste momento, onde tudo é revelado.

Que “tudo” poderá ser isto??

Para improvisar preciso estar inteira? Quer dizer: com minhas células, meu corpo vazio à serviço de um por vir, de um vir a ser.

O que pode ser esta imagem, “estar inteira”?

Um improvisador para mim necessita cuidar da inocência, do desaprontamento, e de se colocar em um estado de imanência com o todo que o envolve.

Mas que todo é este?

TUDO!

As pequenas coisas, as grandes coisas, os detalhes, as coisas vistas e não vistas.

Tornar se visível e construir um estado de ser coisa também, desmanchar seu corpo homem e deixar transformá-lo em uma ferramenta potente de significados, para que a audiência possa absorver e resignificar o momento da maneira que lhe é apresentado.

Parto do entendimento de que cada um tem o universo dentro, que coabita este tempo, e que tudo faz a diferença e modifica as ações decorrentes de outra ação.

Então, tudo já está acontecendo, o improvisador recorta um intervalo de tempo e se apropria dele, um trabalho de ourives refinado, delicado e atrevido. Entendo que o improvisador precisa ser ele próprio seu provocador, ele transfere o sujeito para o espaço do acontecimento e ele deve saber que tudo que produz se configura e revela como uma imagem. É fundamental saber-se visto por algo, por alguém, e que esta sensação o afeta e modifica seus procedimentos futuros.

Ele trabalha com partículas infimamente pequenas de projeção de tempo, pois também sabe que tudo pode mudar com um “piscar de olhos”!

É fato que nunca contamos quantas piscadas de olhos damos quando estamos nesta ação. Isto me interessa perseguir alguma coisa que não sei.

Instrumentalização de um improvisador: uma vida inteira!

No meu entender o improvisador precisa gostar de trocar, gostar de mudar, precisa ser curioso, precisa ter fome de vida, fome de saber, fome de tentar sempre mais uma vez, e ser totalmente despretensioso. Por que isso? Porque ele sabe que corre o risco do fracasso, do ridículo, e o que ele pode fazer?

Seria bom que a disponibilidade fosse uma constante. Treinar improvisação é ampliar nosso repertório, aumentar nossa enciclopédia tanto física, como sensorial, é estudar e estender as conexões com a vida, é discutir o inusitado, a surpresa e se colocar inteiro no meio da cruz, presente.

ESPAÇOXTEMPO

O improvisador precisa ser atrevido para lançar os dados e se comprometer com o que aparece, administrando e compondo junto. Partindo do pensamento que as coisas falam que tudo fala e que ele é e será mais um no espaço, talvez ele seja o deflagrador de situações que surgem assim!!

A espontaneidade para um artista que lida no campo da improvisação não existe. Para mim existe um treinamento intelectual refinado atuando no campo sutil e as configurações são selecionadas quase instantaneamente por um intelecto treinado na composição de qual imagem está sendo produzida no campo real. Passado, presente e futuro são reduzidos no instante infinitesimal de segundos.

O tempo vale.

A vida vale.

Tudo é importante.

Não vivemos de aparência.

Vivemos de acordos potentes e lúcidos. O intuito talvez seja de escancarar aquilo que lá está uma aventura certamente!

Hoje meu lugar de interesse tem se voltado à questão da Aparição e da Desaparição.

Minha questão é a seguinte: o que acontece quando sou vista pelo espaço?

No sentido da prontidão das células e da conexão em um campo de energia, que faz com que quando algo aparece, tudo que ali está surge junto. Registramos juntos este instante mágico. Esta sensação me faz tentar novamente, me sinto como um caçador, que estuda seus hábitos, seus impulsos, suas ferramentas, para novamente capturar este instante, que eu chamaria de Instante Zero.

Na maioria das vezes quando estou em estado “improvisatório”, aparição e desaparição estão juntas.

Procuro capturar este momento da aparição para entender o grau de energia que acontece para tal, e a sensação de desapego que preciso ter para que isso se efetive.

Instante Zero é a potência sobre potência, que cria um campo de imanência, onde a sensação é que o tempo parou, e tudo foi visto e registrado pelas células do espaço.

Talvez centésimos de segundos tornam-se eternos e largos.

Magnífico, não?!

Chego, então, a outra questão que me tem chamado a atenção: trabalhar o corpo como se fosse uma “obra” de arte em permanente estado de exposição.

Tenho feito esporadicamente este exercício e tenho também ministrado oficinas com este intuito de treinar a excelência de estarmos em performance por tempos estendidos de 20 minutos a quatro/seis horas de trabalho, aceitando os vazios, as desaparições, deixando o espaço se revelar como potência , como lugar. Cada vez mais isso tem me interessado.

E percebo como a simplicidade é importante para se deixar ser tempo, espaço e, assim desvelar a dança, soltar e desamarrar o espaço.

Que espaço é esse?

Espaço é tempo, vida, lugar, ação, acontecimento e tudo se passa junto, em tempo real e em uma configuração única.

Não há repetição. Mais uma vez improvisa-se e mais uma vez tudo é novidade. A menor mudança altera e modifica o acontecimento.

Gosto dessa sensação, justamente por isso sou improvisadora, estou sempre começando algo que não sei muito bem o que é, mas estou! Esse é o meu exercício como artista de dança e como pessoa no mundo.