sexta-feira, 13 de novembro de 2020

sem tí ( ) tulo

 Num relance, intenso rápido

Vi, sim realmente vi a cristaleira aberta

suas portas escancaradas e abertas

olhei seu interior profundo, denso de tantas mas tantas incontáveis sensações

memórias íntegras de mim

Olhei e me deixei ser olhada e vista também

a cristaleira ali aberta, quieta  e escancarada 

eu em sua frente também aberta, escancarada, completamente abobada

eu e ela, as duas abobadas e entre nós o espaço em transito de muitas recordações em formas de imagens, canções, tons de vozes , atravessavam velozes minha memória 

vida vivida

passagem do tempo

passagem da vida

estava como se olhasse dentro de minha alminha de gente, entre louças, tigelas, potes, taças, sorviam de um tudo em seus ínfimos detalhes

cores, desenhos, formas, volumes, de vidro, de metal, de cristal, de louça

exalavam sentidos múltiplos de histórias, de mesas sobremesas, de conversas entre talheres, de gostos, de receitas, de olhares

sorviam de um tudo de vida de gente

um olhar tão rápido e veloz

tão sem querer

foi direto em meu coração

desanuviando as nuvens que guardavam em um silêncio azul, as histórias de mim

desvelou uma sensação de caminhada, 

Havia um mundo ali

Tudo estava ali

no brilho

na curva

no corpo

no vazio

no compasso

aquelas todas coisas inanimadas eram tão cheias de

sentidos

de memórias

de meus dois olhos lágrimas doces escorreram

Quanta vida vivida já tive e tenho

a música de vários brindes tilintaram em meus ouvidos

fiquei um tempo estátua vivendo o dentro, o cheio

cachorro latiu

sai do transe

olhei de novo com olhos do dia

tudo continuava

escondiam o mistério do que uma existência possa ter de vida

realidade deslumbrada

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