quinta-feira, 29 de novembro de 2018

mundo corpo & corpo-mundo



De uns tempos para cá, estou às voltas com um pensamento de conexão e ao mesmo tempo de extensão. Fazer ressoar pelo espaço afora as ideias que atravessam meu, talvez, ser corpo. É certo que trabalho na porosidade, na imagem da espuma, e no corpo como filtro e transmissor de potências. Tais potências estão na vontade, no desejo, na ação, e acredito que ela aparece quando estamos vivendo no tempo presente. Por falar em presente, observe como é linda a forma da palavra "presente": antes de sentir, estou presente na ação, estou dentro do tempo. E que tempo é este que gosto tanto de falar e discorrer sobre? Certamente não é o do relógio. Talvez seja um tempo parecido ao de Marcel Proust, em seu romance Em busca do tempo perdido. Este tempo está sempre passando, em um devir constante de aceitação e transformação.
Justamente por falar deste tempo dilatado é que me encontro aqui, impressa em palavras, que começam com o agrupamento de letras e, uma vez mais agrupadas, constroem frases. Frases com sujeito, substantivo, adjetivo, acompanhadas de verbos, pois nesta vida precisamos de ação. Nascer é uma ação: penso sempre na continuação deste fato, então, todos os dias, continuo. Mas é fato também que estou me delongando para chegar a uma questão que muito me interessa. Há um tempo comecei a pensar e sentir as ressonâncias através do movimento produzido pela ação do dançar, aonde esta ação levava meu pensamento. Comecei a escutar os ecos deste e refletir sobre. Foi então que cheguei nesta ampliação de Corpo-mundo e mundo-corpo. O que significa isto para mim, para você? Mundo grande e pequeno, mundo vasto e miúdo. Pois o que acontece dentro, está acontecendo fora. Nosso corpo habita este mundo e também é habitado por ele. Acho esta idéia maravilhosa! Traz para mim uma sensação de plenitude, de mais um no redemoinho do vir a ser, de pertencer a algo maior do que eu mesma. Traz tudo que está ao redor, compartilhando os efeitos e os afetos circundantes e circulares. E deste modo, me faz entender que o mundo está para o meu corpo-casa assim como meu corpo-casa está para o mundo, o que implica a noção de cuidado e atenção no caminho que traço e risco nesta trajetória. Árvores, rios, céus, terras, mares, animais, grandes e pequenos, coabitam este lugar, e vivemos, todo o tempo, cheios de interferências, de ressonâncias, independendo de suas freqüências.
A curiosidade que tenho serve de alimento para o entendimento das ações futuras que seguem adiante, para a compreensão das ações de ontem, e para me colocar em cima de meus pés que conversam com aquilo que os apóia: a terra. Quando me percebo, penso aonde me encontro, vejo ao redor, novamente penso, sinto como este planeta me acolhe e me nutre. Sem este chão não teríamos este corpo. Perceber a importância de tudo que nos rodeia é fundamental para termos a sensação de cuidado e de respeito para com este mundo. Deixar ressoar o mundo em nós: sabemos que estamos aqui de passagem. Insisto em falar disto. Creio que o mundo só está assim hoje porque tiveram pessoas que cuidaram e conversaram com aquilo que já estava como a água, o ar, a terra, as plantas, os animais.

Tempo para o silêncio.

Vazio.

Quero muito escrever sobre, mas me extravaso e extravio o meu querer de apenas ser simples. Será que estou me fazendo entender?

Abranger a substância do mundo para.
  
Ser.

Quando escrevo já estou sendo alguma coisa, exercendo através do meu ser que se dilui em palavras e constrói idéias como esta de Mundo-corpo e Corpo-mundo.
Hoje penso desta maneira, do pequeno para o grande e, inversamente, do grande para o pequeno.
Você já imaginou como somos imensos para uma formiga, e como somos formigas dentro do universo?
E somos massa do planeta terra, juntamente com a água, a terra, as coisas grandes e pequeninas. De longe é tudo uma coisa só e, no entanto, aqui temos nossos territórios, guerreamos por isso e aquilo, até a água está sendo comprada e ela, a água, nem sabe disso.  Ela está existindo generosamente e nós, em conjunto, sujamos, secamos, destruímos aquilo que nos guarnece, alimenta, acolhe.
Penso muito nestas questões e sabe o que faço? Faço o que posso no movimento pequeno de gente: cuido. Cuido das coisas, do espaço perto de mim, assim, desta maneira, escrevo, danço, converso, faço espetáculos, escolho as coisas, leio livros, agradeço todos os dias. Isto pode até parecer “piegas”, mas para mim não é, trabalho com arte trabalhando com a subjetividade destas impressões.
Procuro tocar, talvez, em um campo de imanências do mundo através do movimento da vida e tenho esperanças de mudanças sutis.
Não quero classificar nada. Mas quero muito ver, sentir, cuidar desta conexão Mundo corpo e Corpo mundo.
Porque isto vale a pena.  
Olhe para uma árvore florida, em uma rua cheia de carros, barulho, asfalto. Olhe como ela conversa com esta paisagem e, depois, de um breve silêncio, observe. Respire com todo seu corpo-casa esta paisagem que não faz força nenhuma para acontecer, simplesmente porque as coisas já estão no devir desta imanência.
Portanto, coragem é o que desejo hoje para todos nós que fazemos e somos a massa do mundo humano.
Portanto, cuidado é o que desejo hoje para todos nós que fazemos e somos a massa do mundo humano.


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