De uns tempos para cá, estou às voltas
com um
pensamento de conexão
e ao mesmo tempo
de extensão. Fazer
ressoar pelo espaço afora as
ideias que atravessam meu, talvez, ser corpo. É certo que trabalho na porosidade, na imagem
da espuma, e no corpo
como filtro
e transmissor de potências.
Tais potências
estão na vontade, no desejo, na ação, e acredito
que ela
aparece quando estamos vivendo no tempo presente. Por falar em presente, observe como é linda a forma da palavra "presente": antes
de sentir, estou presente
na ação, estou dentro
do tempo. E que
tempo é este
que gosto
tanto de falar
e discorrer sobre?
Certamente não
é o do relógio. Talvez
seja um tempo
parecido ao de Marcel Proust, em seu romance Em busca
do tempo perdido. Este tempo está
sempre passando, em
um devir
constante de aceitação
e transformação.
Justamente por falar deste tempo
dilatado é que me
encontro aqui,
impressa em
palavras, que
começam com o agrupamento
de letras e, uma vez
mais agrupadas, constroem frases. Frases com sujeito, substantivo, adjetivo,
acompanhadas de verbos, pois
nesta vida precisamos de ação.
Nascer é uma ação: penso sempre na
continuação deste fato,
então, todos
os dias, continuo. Mas
é fato também
que estou me
delongando para chegar a
uma questão que
muito me
interessa. Há um tempo
comecei a pensar e sentir
as ressonâncias através
do movimento produzido pela ação do dançar,
aonde esta ação
levava meu pensamento.
Comecei a escutar os ecos
deste e refletir sobre.
Foi então que
cheguei nesta ampliação de Corpo-mundo e mundo-corpo. O que significa isto
para mim, para você? Mundo
grande e pequeno,
mundo vasto
e miúdo. Pois
o que acontece dentro,
está acontecendo fora. Nosso corpo
habita este mundo
e também é habitado por
ele. Acho esta idéia
maravilhosa! Traz para
mim uma sensação
de plenitude, de mais
um no redemoinho
do vir a ser, de pertencer a algo maior do que eu mesma. Traz tudo que está ao
redor, compartilhando os efeitos e os afetos
circundantes e circulares. E deste modo, me faz entender que o mundo está para o meu corpo-casa assim
como meu
corpo-casa está para o mundo,
o que implica a noção
de cuidado e atenção
no caminho que
traço e risco
nesta trajetória. Árvores,
rios, céus,
terras, mares,
animais, grandes
e pequenos, coabitam este lugar, e
vivemos, todo o tempo,
cheios de interferências,
de ressonâncias, independendo de suas freqüências.
A curiosidade que tenho serve de alimento para o entendimento das ações futuras que seguem adiante, para a compreensão das ações de ontem, e para me colocar em cima de meus pés que conversam com aquilo que os apóia: a terra. Quando me percebo, penso aonde me encontro, vejo ao redor, novamente penso, sinto como este planeta me acolhe e me nutre. Sem este chão não teríamos este corpo. Perceber a importância de tudo que nos rodeia é fundamental para termos a sensação de cuidado e de respeito para com este mundo. Deixar ressoar o mundo em nós: sabemos que estamos aqui de passagem. Insisto em falar disto. Creio que o mundo só está assim hoje porque tiveram pessoas que cuidaram e conversaram com aquilo que já estava como a água, o ar, a terra, as plantas, os animais.
A curiosidade que tenho serve de alimento para o entendimento das ações futuras que seguem adiante, para a compreensão das ações de ontem, e para me colocar em cima de meus pés que conversam com aquilo que os apóia: a terra. Quando me percebo, penso aonde me encontro, vejo ao redor, novamente penso, sinto como este planeta me acolhe e me nutre. Sem este chão não teríamos este corpo. Perceber a importância de tudo que nos rodeia é fundamental para termos a sensação de cuidado e de respeito para com este mundo. Deixar ressoar o mundo em nós: sabemos que estamos aqui de passagem. Insisto em falar disto. Creio que o mundo só está assim hoje porque tiveram pessoas que cuidaram e conversaram com aquilo que já estava como a água, o ar, a terra, as plantas, os animais.
Tempo para o silêncio.
Vazio.
Quero muito escrever sobre, mas me extravaso e extravio
o meu querer
de apenas ser
simples. Será que
estou me fazendo entender?
Abranger
a substância do mundo
para.
Ser.
Quando escrevo já
estou sendo alguma coisa, exercendo através do meu ser que se dilui em palavras e
constrói idéias como
esta de Mundo-corpo e Corpo-mundo.
Hoje penso
desta maneira, do pequeno
para o grande
e, inversamente, do grande para o pequeno.
Você
já imaginou como
somos imensos para
uma formiga, e como
somos formigas dentro
do universo?
E somos massa do planeta
terra, juntamente
com a água,
a terra, as coisas
grandes e pequeninas. De longe é tudo
uma coisa só
e, no entanto, aqui
temos nossos territórios,
guerreamos por isso
e aquilo, até
a água está sendo comprada e ela, a água, nem sabe disso. Ela
está existindo generosamente e nós, em conjunto, sujamos, secamos, destruímos aquilo que nos guarnece, alimenta,
acolhe.
Penso muito
nestas questões e sabe o que faço? Faço o que
posso no movimento pequeno
de gente: cuido. Cuido das coisas, do espaço
perto de mim,
assim, desta maneira,
escrevo, danço, converso, faço espetáculos,
escolho as coisas,
leio livros, agradeço todos os dias. Isto pode até parecer “piegas”, mas para mim não é, trabalho com arte trabalhando com
a subjetividade destas impressões.
Procuro tocar, talvez, em um campo de imanências do mundo
através do movimento
da vida e tenho esperanças
de mudanças sutis.
Não quero classificar nada. Mas quero
muito ver, sentir, cuidar desta conexão Mundo corpo e Corpo mundo.
Porque isto vale a pena.
Olhe para uma árvore
florida, em uma rua
cheia de carros,
barulho, asfalto.
Olhe como ela
conversa com
esta paisagem e, depois,
de um breve
silêncio, observe. Respire com todo seu corpo-casa esta paisagem
que não
faz força nenhuma para
acontecer, simplesmente
porque as coisas
já estão no devir
desta imanência.
Portanto, coragem é o que desejo hoje para todos nós que fazemos e somos a massa
do mundo humano.
Portanto, cuidado
é o que desejo
hoje para todos nós que fazemos e somos a massa
do mundo humano.
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