segunda-feira, 27 de julho de 2020

eu euzinha e outros eus

 Fico em minha casa
estou vivendo eu e mais outros vários eus
não sei muito de mim
apenas que convivo comigo
todo o momento estou
uma sensação de estar meia zonza, perdida no meio de um mar
onde não avisto margens
preciso de margens para me margear
aguardo
espero
tantos outros
tantos trabalhos na direção de fora
agora introjeto minha pessoa
continuo zonza, tonta
meio sem beirada, desbeirada
será que meu contorno está se esgarçando
será
será esta uma sensação de sofreguidão
de falta
para quê mesmo existo
se nesse tempo tanto faz
passo dias assim
desfocada sigo
estou no meio desse mar de mim
mundo
que mundo?
estamos vivendo como que galinhas de uma granja
consigo ainda ver, sentir, o sol entrar pela casa
consigo ainda respirar
meus sonhos estão embaçados
o que será isso
uma desilusão
acometida estou
na sensação febril de existir
quanto
restos
fragmentos
sigo as noites ora em sonhos, ora em pesadelos ora sem fim
sem borda
precisa de um empurrão para dar meu passo
vivo a meia idade de uma existência
pego a fita métrica
quero medir
meus olhos não conseguem enxergar os números
não conseguem ou não querem
meu desejo agora é imediato
não posso falar dele, porque me esqueci de querer saber
o anuncio
a véspera
vespero em arranjos desarranjados
procuro pelo Besouro que fecunda a flor do maracujá
ele se foi
as flores caem em meu jardim
uma lágrima escorre pela minha face
o que posso eu, euzinha fazer de mim?

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