A tesoura está afiada, ela corta tanta coisa, vai papel, vai cabelo, vai costura, vai linha
que maravilha e como é bonita e afiada
Ela mora na gaveta da cozinha e se comporta maravilhosamente bem dentro da gaveta.
O chapéu está pendurado no cabide, fica lá aguardando , esperando completamente disponível para uma ida ao jardim, a lavoura, à rua, quando o Sol está imperioso no céu , ele entra na ação e exerce sua função de proteção cuidadosamente.
Já a xícara prefere ficar a disposição da mesa, redonda e um tanto quanto comportada, faz seu serviço como quase um ritual. recebe o chá, o café, o leite , o nescau e tem intimidades finas e veladas com a boca que sorve o líquido, com as mãos que a lavam para o uso. Nunca se antecipa, e muito menos se aflige, está na maioria das vezes guardada no armário ou posta à mesa
Os talheres são mais escandalosos, podem se atrapalhar, fazer barulhos quando a comida é boa, ou quando as conversas se acendem
Ah , o tapete da sala, só guarda, não se incomoda de ser pisado, mas bem sabe que das lembranças da casa , das mais recônditas estão ali inseridas em sua teia, reconhece os pesos de cada corpo, guarda o histórico por toda a vida, podem passar gerações gerações e ele estendido no chão continua
enquanto a casa vive seu tempo
moveis, mobilias, sofás, geladeira, fogão são todos irmãos, uma família por assim dizer
Mas a atriz visceral é sim a cama de casal, coisas do arco da velha podem se suceder
a casa murmura e adora receber festas, celebrações, e flores no jarro da mesa
A casa também sabe que sua vida é dada por quem nela habita, alegrar ou entristecer faz parte e é importante, e justo aí e para isto que existem cantos, corredores, lugares de pouso para determinadas sensações, a casa sabe que pode acolher, abrigar , dar teto e ser colo
Eu , já passei por várias casas, casas de todo tipo, mas minha casinha sempre foi meu recanto, é este corpo meu, que constrói as casa por onde parte, por onde deixo
Minha casinha de sapé, simples oriunda de mim
Na sensação de mais um, sigo o tempo dado pela vida
em meus guardados guardo gratidão, um vidrinho de macramè que minha tia me deu quando ainda criança, um bonequinho feinho, mas muito lindinho que considero meu euzinho
as louças que foram da casa de meus pais, ficam a me olhar e servir nas horas do café, dos almoços de todo dia.
A casa cuida da lembrança, algumas permanecem sem se afligirem, não se esgotaram
Outras tantas desapareceram, quebraram, envelheceram, perderam o brilho, o motivo de permanecerem
Tem coisas que não se desgrudam fisicamente da casa, talvez porque estejam incrustadas em minha casa memória corpo
E os presentes que ganho e a casa ganha
amigos me ofertaram em um dia talvez de aniversário, talvez de reciprocidade de bem viver
amigos me visitam
e a casa recebe
claro que eu a movimento, abro as janelas, cuido como se fosse gente
sim tudo é gente
Incrível
cada vez mais entendo como o coração compreende as coisas da vida
as afeições, os cuidados, as obrigações, os prazeres, as decepções tudo é uma escola
uma escola que respeito demais
aprendo pela fala, pelo abraço, pela fresta do olho, pela batida do coração
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